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Remando com baleias e golfinhos no Canal de São Sebastião, SP

ATUALIZAÇÃO: A primeira parte desse artigo relata o encontro com baleias e golfinhos que tive no dia 23/05/2021. Uma semana depois, encontrei novamente uma baleia e foi ainda mais emocionante pois ela saltou bem ao lado do meu caiaque e esse vídeo está na segunda parte do artigo. A terceira parte é sobre um encontro com duas baleias que aconteceu no inverno de 2024. Encontrei baleias em outras duas remadas no inverno de 2023, mas como não consegui fotos, também não vou descrever aqui os avistamentos.


Relato 1

De 2016 em diante os avistamentos de baleias jubarte têm sido cada vez mais frequentes em São Sebastião e Ilhabela durante o outono e inverno, a época em que elas fogem do frio das águas polares para a costa brasileira em busca de águas quentes para procriar e dar à luz.

Nos invernos de 2018, 2019 e 2020 eu saí de caiaque diversas vezes, mas nunca dei a sorte de encontrá-las, e olha que em alguns dias, depois que voltei das remadas, soube que foram avistadas no local em que eu remei, mas um pouco antes ou depois. Não nego que dava raiva saber que eu estive no lugar certo mas na hora errada, mas o que eu poderia fazer além de engolir a frustração e voltar para a água mais uma vez? Foi o que fiz no outono de 2021, só que dessa vez o resultado foi diferente, graças a um misto de sorte, persistência e à valiosa ajuda de uma amiga que mora na Ilhabela e tem uma vista incrível para o Canal de São Sebastião.

Depois de uma remada frustrada e outra em que vi rapidamente duas baleias (ou a mesma duas vezes), no dia 23/05/2021, um domingo, saí da Praia Preta do Centro (São Sebastião) rumo à Ponta da Sela (Ilhabela), que marca o limite do Canal de São Sebastião. Depois de remar por 40 minutos, toca o celular e eu já sabia que essa amiga, a Gabriella Frugis, havia visto algo interessante a partir da sua casa. Na verdade não era baleia, mas um grupo de golfinhos, o que me fez retornar por 2 km até encontrá-los, no caminho marcado no mapa abaixo pela linha em vermelho.

Vermelho: remando para o sul e voltando para procurar golfinhos / Verde: remando junto com golfinhos / Marrom: procurando baleias / Rosa: acompanhando a(s) baleia(s) / Amarelo: volta para São Sebastião

Os golfinhos estavam tímidos, apareciam na superfície rapidamente para respirar mas, mesmo assim, é sempre muito bom remar perto deles e fui acompanhando o grupo, que nadava na direção de São Sebastião, como mostra a linha verde. Enquanto eu remava, vi que haviam 3 barcos parados mais ao sul. Poderiam estar pescando ou, quem sabe, observando baleias, então mudei meu rumo, depois de uma hora com os golfinhos, para descobrir (linha marrom).

Logo que mudei de direção os barcos começaram a se movimentar e fui também corrigindo minha direção até que depois de apenas 20 minutos apareceu uma baleia! Fiquei à deriva alguns minutos e, então, ela apareceu novamente, mas do outro lado.

Não sei se era a mesma mas mudei de novo o rumo, como pode ver pela linha em rosa e, após alguns minutos, tive a visão mais incrível do dia, quando uma jubarte saltou 4 vezes seguidas! Infelizmente ela não estava próxima e minha lente não era própria para cenas distantes, mas a imagem eu não esquecerei, mesmo sem fotos. Remei na direção da Ilhabela, pois parecia ser o rumo que ela tomou, e fiquei por duas horas no mesmo local, com a baleia aparecendo a cada 10 minutos (em média) para tomar ar e voltar a se alimentar. Às vezes ela aparecia a 80 ou 100 metros de mim mas, em outras vezes, subia bem perto do caiaque, como pode ver nas fotos abaixo.

Foto feita de mim e da baleia pelo dono de uma lancha que estava próxima

Foto que eu fiz no momento da foto anterior, em que eu apareço

No fim do dia ela começou a nadar para fora do Canal e eu a acompanhei até a Ponta da Sela, quando achei que deveria retornar pois, de lá até a Praia Preta, são 9 km de distância (trajeto em amarelo) e não demoraria a escurecer. No total, remei 32 km e fiquei 7 horas seguidas no caiaque, seja remando, seja observando, mas a emoção era tanta que mal percebi o tempo passar.

Eu já havia visto baleias na Nova Zelândia, Chile, Havaí e também no Brasil, mas vê-las no quintal de casa e a partir de um caiaque é muito mais emocionante… E que venham mais avistamentos, a busca continua!


Relato 2

O parágrafo acima foi o último referente ao encontro que tive no dia 23/05/2021 e, como eu havia escrito, a busca continuou e com muito sucesso! Isso porque no domingo, dia 30/05/2021, eu estava pegando a bicicleta para um treino de mountain-bike quando olhei para o mar e vi uma baleia passando em frente à Praia Preta do Centro. Por dois segundos eu tive dúvidas se iria pedalar ou remar mas logo estava arrumando os equipamentos para ir para a água, mas não sem antes avisar o amigos que remam e moram perto para terem também a chance de vê-la.

Felizmente ela estava nadando bem devagar e a alcancei depois de apenas 1 km remado. Aliás, eu a passei pois quando emergiu, estava atrás de mim, como pode ver nessas fotos dela me passando.

Baleia se aproximando do meu caiaque e, ao fundo, o Porto de São Sebastião.

Passando a poucos metros de mim, sem se importar com o caiaque, já que não tem barulho de motor.

Depois de passar, se preparando para mergulhar.

Um pouco depois aconteceu um dos encontros mais incríveis que já tive com um animal selvagem, rivalizando com o encontro com o puma que tive quando estava fazendo as fotos para o livro As Mais Belas Trilhas da Patagônia (fotos aqui). Eu parei de remar e, enquanto esperava, peguei o celular para atualizar minha posição para meus amigos quando ouvi um barulho, olhei para o lado e tinha uma baleia saltando a uns 20 metros do meu caiaque!

A péssima qualidade da imagem é porque são quadros capturados do vídeo feito pela GoPro que estava presa à minha cabeça

Repare que ela vai girando o corpo enquanto está no ar

Quando sai da água ela está com o ventre virado pra mim

Nesse momento ela já está de lado

E agora, com o dorso virado pra mim

Alguns minutos depois ela saltou mais uma vez mas estava longe e não consegui fotografar nem filmar. Ela continuou nadando lentamente rumo ao sul, fazendo um ziguezague, até que depois de quase duas horas na água, resolvi voltar pois dava para ver uma frente fria chegando e eu não queria estar no mar em meio aos raios.

Aqui ela está passando em frente à Praia de Barequeçaba e é possível ver que seu corpo está cheio de cicatrizes


Relato 3

No dia 19 de junho de 2024, saí para remar com dois amigos e, quando estávamos próximos à Ponta da Sela, no sul do Canal de São Sebastião, vimos uma baleia próxima a uma lancha que já havia a visto antes.

Remamos rapidamente até a lancha e eu pedi para subi a bordo porque queria voar com o drone, mas o piloto disse que logo eles iriam embora. Então fui até uma pequena lancha que havia chegado para fazer a mesma pergunta, e enquanto eu conversava com o piloto, outra baleia apareceu para respirar e ela estava tão próxima que, se eu não remasse para trás, ela teria batido na proa (frente) do caiaque. Como eu havia ligado a GoPro que fica presa no caiaque assim que vimos, ainda de longe, a primeira baleia, consegui um ótimo vídeo desse encontro emocionante.

Logo que ela afundou, fui para o píer do condomínio Ponta da Sela e pedi permissão ao funcionário para desembarcar para usar o drone. Gentilmente ele permitiu e fiz fotos lindas das duas baleias juntas nadando para fora do canal, possivelmente fugindo das dezenas de lanchas e iates que as seguiram por quilômetros em mar aberto, um problema que tem ficado maior a cada ano, porque mesmo havendo regras para o avistamento, não há fiscalização frequente. Por falar em regras, abaixo das imagens colocarei a cartilha para avistamento de baleias, por favor as siga e compartilhe com quem não conhece.

Duas baleias jubarte nadando juntas no Canal de São Sebasitão

Nessa foto é possível ver bem o borrifo da jubarte

As melhores fotos desse dia estão guardadas para meu próximo livro, mas essas três já mostram bem como foi esse incrível encontro

Normas para avistagem de baleias, ilustração feita pelo Projeto Baleia à Vista

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