Conheça o livro "As Mais Belas Trilhas da Patagônia"
Torres del Paine, El Chaltén, Bariloche, Ushuaia, Villarrica, Cerro Castillo, Dientes de Navarino e Parque Patagonia
Circuito W em Torres del Paine, Chile – Relato de trekking
Visão geral
Considerado um dos melhores destinos de trekking do mundo, Torres del Paine tem dois roteiros que estão a cada ano mais populares: o Circuito O, também chamado de Circuito Grande, e o Circuito W, que é parte do O e cobre a maior parte das paisagens mais bonitas.
Situado no sul do Chile, em 1959 foi criado o Parque Nacional e, em 1978, declarado pela Unesco como Reserva da Biosfera. Em seus 181.000 hectares há diversas trilhas de um dia, além de áreas que podem ser visitadas de carro ou barco, fazendo com que o parque seja acessível para qualquer pessoa, desde quem gosta de passar vários dias acampando até quem quer viajar com todo conforto.
Apesar de não ter grandes altitudes, o inverno é bastante rigoroso e até no verão é possível nevar, apesar de não ser muito comum. O que é comum, em se tratando do clima, é haver grandes variações em pouco tempo e muito vento, que pode fazer a sensação térmica cair para baixo de zero mesmo durante o dia.
Eu havia feito o Circuito O em 2011 e já tinha fotos suficientes para usar no livro As Mais Belas Trilhas da Patagônia, mas é claro que não poderia passar perto do parque e não entrar para fazer a trilha novamente, além de conhecer trilhas de um dia que ficam fora dos circuitos. Infelizmente, não consegui reservar todos os acampamentos para o Circuito O, pois agora é necessário fazer isso com bastante antecedência, mas consegui para o Circuito W, o mais popular.
Para ver o relato de quando fiz o Circuito O, clique aqui.

Mapa do Circuito W com os pontos possíveis de pernoite. No total, são 62 km e 3.800 metros de elevação acumulada.

Lago Nordenskjöld, Paine Grande (esquerda), Valle del Francés (centro) e Cuernos del Paine (direita). A trilha passa entre as montanhas e o lago.

As construções do lado esquerdo da foto são do Camping Pehoé, um local lindo para passar ao menos uma noite, antes ou depois da sua trilha.
Melhor época
A temporada vai de outubro a abril, quando é permitido fazer a trilha inteira sem acompanhamento de guia. Porém, olhando os dados históricos do clima, é fácil perceber que dezembro e janeiro são os meses com mais dias nublados em todo o ano.

Gráfico retirado do site Meteoblue, clique sobre o nome para abrir a página.
Custos
Sendo um destino tão famoso e concorrido, dá pra entender porque os custos em Paine são os mais altos da Patagônia. Apenas a entrada para adultos estrangeiros que ficarão mais que 3 dias, custa US$ 49,00 (valor para 2023).
Para dormir, também é necessário pagar e há 3 opções: a mais barata é levando a própria barraca, mas há poucas vagas para quem viaja assim. A segunda mais barata é alugando barracas que ficam montadas nas áreas de camping, caminhando com menos peso. A mais cara é dormindo nos refúgios, mas prepare o bolso pois o custo é bem alto. As áreas de pernoite são administradas por duas diferentes empresas, a Vertice e a Las Torres Patagonia, clique sobre os nomes para abrir os sites delas.
Se você levar sua comida, não terá custos dentro do parque, mas caso queira caminhar leve, é possível jantar nos refúgios e, como pode imaginar, o custo é alto, então informe-se com as administradoras usando os links no parágrafo acima.
Sinalização da trilha
A trilha está bem sinalizada, não é necessário usar GPS. Mas, caso queira, abaixo está o trajeto.
Tracklog para GPS
Clique aqui para abrir minha página no Wikiloc e baixar esse trajeto para usar em seu GPS.
Relato
Dia 1
Depois de ficar oito dias no camping do Lago Pehoé, fazendo trilhas de um dia, fotografando e esperando pumas, chegou o dia da minha reserva para começar o circuito.
A subida para o Campamento Chileno foi sem chuva, mas com tempo nublado, como esteve por quase todos os 15 dias que passei no parque.
Quando cheguei no Paso de los Vientos, o vento estava bem forte (o nome não é à toa) e encontrei duas mulheres sentadas no chão, com medo de serem jogadas morro abaixo. Uma resolveu voltar engatinhando, enquanto a outra eu fui levando segurando em sua mochila, até passar a parte de vento mais forte.
Ao chegar na área de camping e refúgio Chileno, decidi não subir para a base das Torres pois elas estavam escondidas pelas nuvens, então achei melhor deixar para fazer isso na madrugada do dia seguinte para vê-las no nascer do sol.
Passei o fim da tarde lendo e conversando com uma mexicana que conheci no camping do Lago Pehoé e que acabou me acompanhando nos 3 primeiros dias de caminhada.
No Chileno não é permitido cozinhar, então ou você come algo que trouxe pronto, como um sanduíche, ou você paga o preço que eles cobram. Para disfarçar essa sacanagem, eles te dão água fervendo, caso queira fazer um macarrão, mas não permitem lavar a louça usada para cozinhar, ou seja, te sacaneiam de um jeito ou de outro.

Trilha que leva para o Campamento Chileno.

Área de camping e refúgio Chileno.

Interior do Refugio Chileno.
Dia 2
A neve caiu fraca durante toda a noite, então nem cogitei ir até a base das Torres porque não conseguiria enxergá-las. É frustrante, claro, mas como eu já as havia visto e fotografado anos antes, quando fiz o Circuito O, não me preocupei pois já tinhas as fotos necessárias pro livro As Mais Belas Trilhas da Patagônia.
Enquanto esperava o tempo passar e as nuvens se dissiparem um pouco, conheci um casal de brasileiros que estava terminando o Circuito W (esse ponto pode ser o início ou fim da travessia) e disseram que não estavam tristes por não terem visto as Torres pois nunca haviam visto nevar, então me lembrei da primeira vez que vi a neve caindo e entendi perfeitamente a sensação que eles estavam sentindo.
Eu e a mexicana saímos às 09:30 em direção ao Campamento Francés e, apesar de nevar bastante, andei só com o fleece pois o vento estava nas costas e, andando, não sentia frio.
Quando fiz o Circuito O, no trecho perto do Valle del Francés eu dormi no Campamento Los Cuernos, bem perto do Lago Nordenskjöld, mas dessa vez fiz a reserva para o Campamento Francés, não só para conhecê-lo, mas também porque fica um pouco mais perto do Valle del Francés. A ideia foi boa, mas a estrutura do Campamento Francés é muito pior, então recomendo que fique no Los Cuernos pois custa o mesmo.
Dia um tanto entediante, sem nenhuma vista marcante nem fotos dignas de um local tão bonito.

Assim amanheceu o segundo dia, então nem cogitei subir para as Torres.

Essa é uma das foto que fiz em minha primeira viagem, caso queira ver as outras, clique aqui.

Caminhada para o Campamento Francés.
Dia 3
Terceiro dia de trilha, terceiro dia sem ver o sol, nem por um minuto sequer! Mesmo assim, eu e a mexicana fomos para o Valle del Francés, na esperança de que o tempo pudesse melhorar. Ao chegar no Mirador Francés, o primeiro mirante dessa subida, as nuvens começaram a dar espaço para o sol e consegui fazer boas fotos em direção ao Lago Nordenskjöld, o que me deixou feliz pois as fotos que eu tinha da minha viagem anterior, nesse local, não estavam como eu gostaria.
Animado por estar finalmente fotografando, continuei a subida até que ouvi um forte barulho e, ao olhar pro lado esquerdo, vi uma grande avalanche no outro lado do vale. Rapidamente peguei a câmera que estava na pochete e comecei a fotografá-la, perdendo apenas os primeiros segundos. Eu havia visto avalanches várias vezes, mas essa foi, sem dúvida, a maior e mais bonita que já presenciei.
Animado por ter fotografado algo tão impressionante, segui até o Mirador Británico e consegui fazer algumas fotos um pouco antes de chegar, pois logo as nuvens voltaram a esconder as montanhas. Tudo bem, ao menos esse dia foi produtivo e segui até ao camping Paine Grande quase sempre sob garoa.

Lago Nordenskjöld visto do Valle del Francés.

Avalanche no Valle del Francés.

Avalanche no Valle del Francés.

Avalanche no Valle del Francés.

Cerros Espada, Hoja e Máscara, quase chegando no Mirador Británico.

Parece chuva, mas é o vento levantando a água do Lago Skottsberg.
Dia 4
Choveu a noite toda e como não passou quando levantei, resolvi ficar mais uma noite no Paine Grande, em vez de ficar duas noites no Grey. Essa troca só foi possível porque os dois campings são da mesma empresa, eu já tinha duas reservas para o Grey e havia lugar no Paine Grande.
Durante o dia a chuva diminuiu, mas não parou, foi bom ter ficado parado pois não teria feito foto nenhuma.
Passei o dia vendo filmes baixados na Netflix, lendo livros no Kindle e, lá pelas 20:00, o céu ficou com um pouco de azul para dar esperança para o dia seguinte, quando eu teria que seguir mesmo sob um dilúvio, por causa das reservas já feitas.

Assim passei o quarto dia…

E assim é como eu gostaria de ter passado, fotografando essa vista incrível do Lago Pehoé. Esse mirante fica perto da área de camping e hotel Paine Grande, que está no lado esquerdo da foto. Foto feita em minha primeira viagem para Torres del Paine, se quiser ver outras, clique aqui.
Dia 5
Estava garoando quando acordei, mas enquanto tomava o café da manhã, parou de garoar… E começou a nevar. Pouco depois a neve parou e aproveitei pra desmontar rapidamente a barraca, mas a caminhada para o Campamento Grey foi quase todo o tempo sob chuva fraca e com muito vento contra.
Depois de me instalar no Grey, fiz a caminhada até o mirante em frente à geleira e até fez um pouco de sol para me ajudar a mostrar o belo tom de azul dos icebergs.

Mirante para o Glaciar Grey, perto do Campamento Grey.

Mirante para o Glaciar Grey, perto do Campamento Grey.

Mirante para o Glaciar Grey, perto do Campamento Grey.
Dia 6
A trilha de volta para o Paine Grande foi bem sem graça, sempre com tempo nublado. No começo sem chuva, daí garoou e, depois, nevou até que forte.
Já decidido a pegar o catamarã das 18:35, que é como quase todas as pessoas chegam ou vão embora, resolvi sair usando uma trilha que não conhecia, o que é sempre interessante e me animou a passar mais uma noite no acampamento.

Pôr do sol iluminando o Paine Grande, visto do Campamento Paine Grande.
Dia 7
Acordei às 05:00 para fotografar o nascer do sol, que não foi grande coisa, mas aproveitei para caminhar bem cedo. O café da manhã foi um bolo que comi enquanto andava, para não perder tempo pois queria chegar na estrada antes da passagem do ônibus.
No início a trilha tem um sobe e desce curto e, depois, segue por uma longa planície, onde vi diversos coelhos.
Chegando na administração, vi que ainda teria que esperar duas horas até o ônibus, então resolvi pedir carona. Depois de mais ou menos uma hora e uns 15 carros passados, parou um casal muito simpático de Praga, na República Tcheca, já com seus 65 ou 70 anos. Eles me deixaram na estrada para o Pudeto (onde chega o catamarã) e logo consegui outra carona, dessa vez com dois homens na faixa de 20 a 25 anos e, coincidência enorme, também de Praga!
Eles me deixaram na portaria Laguna Amarga, onde tomei o ônibus até o estacionamento, peguei meu jipinho e segui para Puerto Natales, a base para a trilha do Cabo Froward, que você pode conferir clicando aqui.

Vista da trilha que liga o Campamento Paine Grande à estrada.

Casal de avutardas.
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