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Lençóis Maranhenses – Passeios e travessia a pé

Visão geral

Os Lençóis Maranhenses são o maior campo de dunas da América do Sul e, para proteger esse incrível ecossistema de dunas, mangues e restingas, em 1981 foi criado o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Com aproximadamente 1.500 km², o tamanho da cidade de São Paulo, a paisagem dos Lençóis sofre constantes mudanças em suas paisagens, tanto pela ação do vento, que move as dunas em torno de 20 metros por ano, quanto pela elevação do nível do lençol freático durante a temporada de chuvas, criando milhares de lagoas. Comumente chamado de deserto, alguns geógrafos discordam dessa definição, mas é fato que em boa parte do ano a região fica quase totalmente seca, já que mais de 90% da chuva ocorre entre janeiro e julho. Considerando que uma das definições de deserto é “região estéril que sustente poucas formas de vida”, acredito que a palavra pode ser usada, mas a realidade é que isso pouco importa, pois o que atrai os turistas é uma paisagem que não pode ser vista em nenhum outro lugar do mundo. Para aprender mais sobre essa região, clique aqui e acesse um artigo da revista Pesquisa FAPESP.

Em azul está o percurso do barco pelo Rio Preguiças, em vermelho o sobrevoo turístico e os dois caminhos em marrom são passeios de 4×4 para as lagoas.

Existem duas cidades de acesso aos Lençóis Maranhenses: Barreirinhas e Santo Amaro do Maranhão. Barreirinhas é a maior cidade e que tem mais infraestrutura turística, enquanto Santo Amaro, apesar de ficar bem mais perto do campo de dunas, tem menos infraestrutura turística e, portanto, recebe bem menos visitantes. Também há povoados menores, como Betânia, Lavados e Queimado, que podem ser usados para acessar o campo de dunas, mas o transporte para esses lugares é mais restrito.

Melhor época

De fevereiro a maio acontecem fortes chuvas, que enchem as lagoas e fazem com que a melhor época de visitação seja de maio a agosto, com o fim da temporada de chuvas, mas com as lagoas ainda cheias. Em setembro e outubro é possível que você ainda encontre as lagoas com razoável volume de água, mas depende como foi a temporada de chuvas. De novembro a janeiro há poucas lagoas perenes e elas são rasas, sendo que de fevereiro a abril já é possível encontrá-las com médio volume, mas a chance de pegar chuva durante sua travessia ou passeio é bastante grande. Em resumo: vá entre maio e agosto, com preferência para o início da temporada, mas antes de reservar sua viagem, entre em contato com o escritório do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses para saber se as lagoas estão cheias, já que em alguns anos a chuva é insuficiente. Clique aqui para acessar o site do ICMBio e ver os meios de contato.

Em um ano com bastante chuva, há lagoas grandes e profundas por todo o parque.

Por outro lado, em um ano com poucas chuvas, como na época dessa foto, a temporada acaba bem antes de agosto e a paisagem fica assim seca por dezenas de quilômetros.

Barreirinhas

Localizada às margens do Rio Preguiças e quase tão calma quanto o rio, Barreirinhas possui boas opções de hospedagem e alimentação, além de diversas agências de turismo local. Aliás, o ponto negativo de Barreirinhas é justamente a insistência dos vendedores dessas agências, que ficam caçando clientes nas ruas e às vezes até seguindo-os, causando situações embaraçosas para os turistas que, em certos momentos, só conseguem se livrar deles deixando a educação de lado.

Duna no centro de Barreirinhas.

Há três tipos de passeios para serem feitos em Barreirinhas: de jipe para as lagoas, de barco pelo Rio Preguiças e o sobrevoo turístico dos Lençóis.

Jipe para as lagoas: para quem vai fazer a travessia, esse passeio não é muito interessante porque você verá muito mais lagoas durante sua caminhada, com a vantagem que não terá a companhia de dezenas de pessoas. Mas, se estiver com tempo e dinheiro sobrando, as agências vendem passeios com saída de manhã e de tarde. Eu fiz o da tarde para ver o pôr do sol e foi bonito, como mostram as fotos abaixo.

Passeio de jipe para as lagoas na região de Barreirinhas.

Se puder, escolha o passeio da tarde para ver o pôr do sol.

Barco no Rio Preguiças: segundo os moradores, o nome do rio vem por ele fluir bem lentamente até o mar e esse passeio é o jeito mais bonito de chegar em Atins para iniciar a travessia. Deixe para fazê-lo  quando for iniciar a caminhada, pois assim não terá que voltar para Barreirinhas. Quando for contratar o barco, veja se ele para em Vassouras, onde há diversos macacos-prego. Alguns passeios incluem o farol de Mandacaru, de onde se tem uma vista bonita para o rio e, um pouco mais distante, o mar. Porém, do farol não se vê as lagoas, então não chega a ser uma parada imperdível. Por fim, na foz do rio, mas no lado oposto a Atins, fica o vilarejo de Caburé, mas não há atrativos diferentes do que vai encontrar em Atins, então não se incomode caso o barco não passe por Caburé. Caso não queira fazer o passeio de barco, também é possível chegar em Atins com os jipes, que fazem o trajeto de segunda a sábado.

Descida do Rio Preguiças.

Macaco-prego em Mandacaru.

Macaco-prego em Mandacaru.

Farol de Mandacaru.

Vista do Farol de Mandacaru.

Povoado de Caburé, na foz do Rio Preguiças.

Sobrevoo turístico: esse é um passeio caro, mas que vale cada centavo, pois a vista das dunas e lagoas do alto é inesquecível! O voo tem meia hora de duração, suficiente para ir até o meio do parque e ver centenas de lagoas, mas como há poucas saídas e podem ficar lotadas, tente reservar com antecedência.

Vista do sobrevoo turístico a partir de Barreirinhas.

Pôr do sol visto do avião.

O sobrevoo vai até o centro do parque nacional e passa por Baixa Grande, nessa foto quase totalmente submersa.

Para chegar em Barreirinhas a partir de São Luís, você pode pegar um ônibus, van, táxi ou avião. Ônibus é o meio mais barato e há vários horários por dia. As vans custam um pouco mais, mas têm a vantagem de buscá-lo em seu hotel. Os táxis custam ainda mais caro e só saem quando o carro está cheio, então não é um meio que eu acho interessante. Por fim, como Barreirinhas conta com um pequeno aeroporto, você pode ir de avião, que custa muito mais, mas você verá a região do alto.

Santo Amaro do Maranhão

Apesar de ter menos infraestrutura que Barreirinhas, Santo Amaro vem se desenvolvendo bastante desde que a estrada foi asfaltada. As vantagem sobre Barreirinhas é que fica o campo de dunas fica muito mais perto da cidade, sendo possível chegar nas lagoas caminhando a partir da sua pousada. Por outro lado, se você quer fazer o sobrevoo turístico, que eu recomendo muito, terá que ir pra Barreirinhas.

Passeio de canoa pelo Rio Grande, em Santo Amaro.

Na época de cheia, algumas casas ficam ilhadas.

Casa típica dos Lençóis Maranhenses.

Para chegar em Santo Amaro é preciso pegar uma van em São Luís, pois não há ônibus de linha.

Roteiro da travessia a pé

Para quem opta pela travessia, ela sempre é feita no sentido leste-oeste, pois assim o vento está a favor e, principalmente, pelo formato das dunas, já que a inclinação é mais suave para subi-las e a descida é feita pelo lado íngreme. Portanto, a cidade base é Barreirinhas, que fica no lado leste do parque nacional. Na verdade, por estar longe das dunas, a caminhada não começa em Barreirinhas, é preferível ir de barco até Atins e, de lá, começar a caminhada. Também é possível ir com um passeio de 4×4 para as dunas e, então, começar a caminhada, mas eu recomendo que comece por Atins pois o passeio de barco é bonito e você conhecerá outros povoados, como Vassouras, Mandacaru e Caburé.

Se quiser caminhar sem levar barraca e com comida apenas para os lanches durante o dia, pode fazer o seguinte percurso: no primeiro dia, andar pela praia em torno de 8 km para dormir no Canto do Atins, também conhecido como Canto dos Lençóis. No segundo dia, andar em torno de 25 km até Baixa Grande, onde há quartos e redes para alugar. No terceiro dia, caminhar em torno de 11 km e dormir na Queimada dos Paulos, que também tem uma estrutura simples de atendimento ao turista. O quarto e último dia é o mais longo, com mais de 25 km para chegar em Santo Amaro, mas sem carregar muito peso, não é tão difícil. Porém, essa não é minha escolha para fazer a travessia, já que prefiro ficar mais isolado e ter lagoas apenas para mim, inclusive dormindo na beira delas, longe de outros turistas. Abaixo está o roteiro que prefiro.

Se optar passar por Baixa Grande, encontrará um povoado tranquilo ao menos até o fim do dia, quando chegam os turistas que irão pernoitar.

Dia 1

De manhã, faça o passeio de barco pelo Rio Preguiças, conheça os povoados do caminho e, ao chegar em Atins, caminhe por 8 ou 9 km pela praia até o Canto do Atins, onde há dois restaurantes. Eu jantei no Restaurante da Luzia, que ficou famoso depois de sair em algumas publicações, mas a verdade é que o tão famoso camarão não estava de acordo com a fama. O sabor estava bom, mas nada fora do comum, nos pratos vinham apenas 4 camarões grandes e, tanto no meu prato como no de uma amiga, havia um camarão estragado. Pode ter sido azar, mas se eu voltar para o Canto do Atins, vou experimentar o Restaurante do Antonio, que aliás é irmão da Luzia.

Depois de comer, entre no campo de dunas e ande até encontrar uma lagoa que te dê vontade de passar a noite, tenho certeza que será tarefa fácil. Como na temporada seca o vento cria e soterra muitas lagoas, não adianta eu te passar os pontos onde dormi, porque quando você for, a paisagem estará diferente.

Na primeira noite você pode escolher entre dormir em um quarto no Canto do Atins, ou na beira de alguma lagoa, que é a minha escolha.

Dia 2

Hora de seguir para o centro do parque e aproveitar o visual incrível das lagoas azuis, verdes e marrons, que ficam maiores e mais profundas à medida que nos afastamos do mar. Se você, assim como eu, gosta de isolamento quando está na natureza, não siga na direção de Baixa Grande, que é para onde quase todo mundo vai, e terá as lagoas só para você e seu grupo. Caminhando em torno de 20 km, você vai distribuir bem a distância entre os dias de caminhada, então pode andar logo cedo, descansar nas horas mais quentes do dia, e voltar a caminhar quando o sol não estiver muito forte.

À medida que se avança para o centro do campo de dunas, as lagoas ficam maiores e mais desertas.

A água é tão cristalina que nem parece que ela está embaixo da água.

Dia 3

Como eu já escrevi, gosto de isolamento quando estou na natureza, mas nesse dia eu recomendo que siga para a Queimada dos Britos ou dos Paulos, que fica um pouco depois, mas dentro do mesmo oásis. Assim, você terá a chance de conhecer o estilo de vida dessas famílias e ter uma visão geral melhor de todo o parque nacional. Se no dia anterior você andou em torno de 20 km, nesse dia terá outros 20 km para percorrer até a Queimada dos Britos.

A variedade de tons e formatos das lagoas é tão grande que, mesmo passando vários dias caminhando, a paisagem é sempre diferente.

Pôr do sol no campo de dunas.

Dia 4

Se quiser fazer a travessia em 4 dias e terminar em Santo Amaro, o último dia é o mais longo, com mais de 25 km. Caso ache que é muito, pode dividir esse percurso em dois ou seguir para Betânia, que fica mais perto mas o transporte para ir embora é mais complicado que de Santo Amaro, que foi minha escolha nas duas vezes em que estive nos Lençóis.

Nascer do sol e início de mais um dia de caminhada.

Acordar com essa paisagem é inesquecível!

Waypoints para GPS

Clique aqui para acessar minha página no Wikiloc e baixar os waypoints para usar em seu GPS. Como as lagoas mudam de posição de ano para ano, não coloquei o caminho que percorri em nenhuma das viagens, pois seria inútil.

Dicas

Calçados: alguns preferem caminhar descalços, outros com sandálias, mas uma coisa é certa, calçados fechados não são uma boa escolha, já que ao descer as dunas o pé vai afundar e o tênis/bota ficará cheio de areia. Eu usei sandálias com meias (é feio, mas prático e confortável) para proteger o pé na travessia de áreas alagadas, onde não dá pra ver se há tocos ou espinhos e a meia serve para proteger a pele da abrasão, já que sempre fica areia entre a pele e as tiras da sandália.

Repare como os pés afundam na descida das dunas, por isso não recomendo o uso de calçados fechados.

Água para beber: apesar das lagoas serem formadas por água de chuva, não é bom bebê-las sem esterilizá-las, já que há vacas, cavalos e cabras ao redor delas. Leve filtro, Hidrosteril ou outro meio de esterilizar água para não correr riscos desnecessários.

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