Conheça o livro "As Mais Belas Trilhas da Patagônia"

Torres del Paine, El Chaltén, Bariloche, Ushuaia, Villarrica, Cerro Castillo, Dientes de Navarino e Parque Patagonia

Travessia Colonia Suiza – Pampa Linda, Bariloche, Argentina – Relato de trekking

Visão geral

O Parque Nacional Nahuel Huapi, em Bariloche, tem dezenas de trilhas com os mais variados graus de dificuldade física e técnica, sendo um destino excelente tanto para iniciantes como para quem já tem bastante experiência. Depois de pesquisar todas as trilhas, três se destacaram e como elas se cruzam, é possível juntá-las para montar uma grande travessia feita em 8 ou 9 dias, com 105 km de distância e quase 8 mil metros de elevação acumulada. Esse roteiro de 105 km é o que foi publicado no livro As Mais Belas Trilhas da Patagônia, mas no artigo dessa página vou descrever como foi minha experiência fazendo a travessia Colonia Suiza-Pampa Linda, terminando com a ascensão até o Refugio Otto Meiling, no Cerro Tronador, e as cachoeiras do Glaciar Castaño Overo. A travessia aqui relatada tem 92 km de distância, 5.300 metros de elevação acumulada e é feita em 5 ou 6 dias. Eu fiz em 5 porque queria aproveitar uma janela de bom tempo para fotografar, mas gostaria de ter feito com mais um pernoite, para dormir também na Laguna Negra.

Para ver o relato da Travessia 4 Refúgios, que fiz alguns dias depois, quando o tempo voltou a melhorar, clique aqui.

Mapa da travessia Colonia Suiza-Pampa Linda, acrescentando o Refugio Otto Meiling e as cachoeiras do Glaciar Castaño Overo.

 

Cidade Base

San Carlos de Bariloche, conhecida apenas por seu último nome, possui 130 mil habitantes e é a terceira cidade que mais recebe turistas na Argentina, atrás de Buenos Aires e Mar del Plata. Aliás, sua fama é grande inclusive entre brasileiros, mas que pensam em Bariloche somente como destino de inverno, para esquiar ou apenas ver e brincar na neve. Quando fui pela primeira vez era inverno e encontrei brasileiros a toda hora, seja na cidade, seja nas pistas de esqui. Porém, quando fui no verão, encontrei poucos brasileiros na cidade e nenhum nas trilhas, então espero que esse artigo ajude a divulgar esse destino incrível em nosso país.

Como Bariloche conta com aeroporto, é fácil chegar a partir do Brasil e, em certas épocas, há voos diretos, não precisando fazer escala em Buenos Aires.

A rede hoteleira é enorme e há opções para todos os bolsos, desde campings até resorts 5 estrelas, como o famoso Llao Llao. Conheci 3 diferentes hospedagens nas minhas viagens e gostei de todas, a seguir estão os nomes ordenados do mais barato ao mais caro, clique para abrir os sites:
Camping Selva Negra
Hostería La Pastorella
Hotel Tirol

Também há uma quantidade enorme de restaurantes, fui em vários e os que recomendo estão abaixo, clique para abrir os sites:
La Marmite
Familia Weiss

Se quiser comprar doces, castanhas e frutas secas a granel, procure a Repostería Almendra, que tem mais opções que os mercados e os preços são mais baixos.

É mais rápido ir para Bariloche de avião, mas se puder ir de carro, terá vistas lindas pelo caminho.

Pôr do sol e Bariloche vistas do Cerro Otto.

No verão, os argentinos aproveitam as praias dos diversos lagos ao redor da cidade.

 

Melhor época

De janeiro a março o clima é mais seco e a trilha costuma estar toda desimpedida de neve. De abril a dezembro é obrigatória a contratação de guia credenciado pelo parque nacional.

 

Custos

A entrada no P. N. Nahuel Huapi é grátis, mas é preciso pagar para acampar na Laguna Ilón, no Refugio Otto Meiling e, se você for pernoitar na Laguna Negra, também.

Se for entrar no parque nacional por Pampa Linda, há cobrança, mas para entrar por Colonia Suiza, como está descrito aqui, não.

 

Sinalização da trilha

Nos trechos de mata fechada, apenas um trecho está mal sinalizado, um pouco antes de chegar à Laguna CAB. Nos trechos em que se anda sobre rochas, é preciso estar atento para encontrar as marcações, vi diversas pessoas pegando o caminho errado por não estarem prestando atenção suficiente ou não terem um bom mapa/GPS.

 

Tracklog para GPS

Clique aqui para abrir minha página no Wikiloc e baixar esse trajeto para usar em seu GPS.

 

Relato

Dia 1 – Colonia Suiza a Laguna CAB (21,3 km – Elevação acumulada de 1.651 m)

Apesar de a previsão dizer que o dia seria de pouco sol e muitas nuvens, resolvi começar a travessia mesmo assim. Por sorte, a previsão errou e não havia nenhuma nuvem, como é bom quando o erro acontece a meu favor!

A trilha até a Laguna Negra segue quase sempre por um bosque, acompanhando o rio. No início tem algumas corredeiras e depois há uma cachoeira linda, até que a trilha fica mais íngreme e se tem vista para as montanhas.

A Laguna Negra é lindíssima e muito popular por quem quer passar uns dias acampando, nadando e pegando sol. Como estava cedo, segui em frente, caminhando sempre acima da linha de árvores, até chegar na Laguna CAB, também conhecida como Laguna Lluvu. Como a laguna estava muito cheia, tive que tirar os tênis (as botas estavam no sapateiro) e andar pela água para chegar do outro lado, já que não queria fazer isso na manhã seguinte. Dei a volta pela margem esquerda e, horas depois, uma pessoa que resolveu circundar a laguna pelo lado direito caiu em um buraco e ficou encharcada. Molhou tudo, menos o orgulho, já que chegou na área de acampamento como se nada tivesse acontecido.

A Laguna CAB não tem refúgio e não é tão bonita como a Negra, o que faz com que tenha bem menos gente. Aqui eu conheci dois argentinos, o Federico e o Matías, ambos bem simpáticos. Depois chegou um grupo de 6 pessoas e foi difícil dormir porque faziam muito barulho, tem muita gente que pensa que barracas são à prova de ruídos.

Cachoeira na trilha para a Laguna Negra.

A trilha vem pelo vale até subir para a laguna, de onde fiz essa foto.

Laguna Negra e, à esquerda, o Refugio Italia.

Refugio Italia e Laguna Negra.

Foto em 360º da Laguna Negra e Refugio Italia. Clique para abrir e gire para os lados com o mouse.

Do lado esquerdo está a Laguna CAB, onde passei a primeira noite. Do lado direito está o Cerro Tronador, onde passei a quarta noite, e na frente dele está o Brazo Tristeza do Lago Nahuel Huapi. Foto feita no Paso Cerro Negro, que não faz parte da travessia Colonia Suiza-Pampa Linda, mas é uma curta caminhada que vale o visual.

Foto em 360º do Paso Cerro Negro. Clique para abrir e gire para os lados com o mouse.

Minha barraca na Laguna CAB.

Entardecer na Laguna CAB.

Dia 2 – Laguna CAB a Laguna Azul (13,9 km – Elevação acumulada de 1.142 m)

Mais um dia que começou com céu azul e logo cedo saí em direção à Laguna Cretón. A trilha começa com uma subida íngreme e, quando cheguei no topo do Paso CAB e poderia começar a descida, resolvi subir até o cume para ter vista para o Cerro Tronador e a laguna, mas a tentativa não deu certo pois há morros bloqueando a visão.

Assim como após a Laguna Negra, a caminhada aqui também acontece acima da linha de árvores, o que deixa o visual sempre interessante. Já a Laguna Cretón, essa não é tão interessante e, como ainda havia tempo, segui para a Laguna Azul.

Antes de chegar na área de camping da Azul, tive uma das vistas mais bonitas de todos os 6 meses de viagem, a partir de um mirante que mostra o lago com um azul tão forte que, nas fotos, as pessoas sempre perguntam se a cor é real ou é Photoshop. Acreditem, é real e inesquecível, esse lago é um dos três mais bonitos de toda a Patagônia, na minha opinião.

Acampei longe de outras pessoas e, pela primeira vez em 4 meses na Patagônia, acordei apanhado em suor e tive que abrir um pouco o saco de dormir, já que a mínima foi de 9 graus positivos, sendo que em quase todas as noites estava dormindo abaixo de 0 grau.

Vulcão Puntiagudo, no Chile.

A trilha desce para o Mallín de las Vueltas e sobe para atravessar o passo no lado direito da foto.

Nuvem lenticular em volta do Cerro Tronador.

Laguna Azul, uma das mais bonitas de toda a Patagônia.

A área de camping da Laguna Azul fica em meio às arvores, bem protegida do vento.

A cristalina água da Laguna Azul.

Dia 3 – Laguna Azul a Laguna Ilón (19,1 km – Elevação acumulada de 1.012 m)

Acordei às 05:30, mas como o tempo estava feio, voltei a dormir. Levantei às 07:30 e saí em direção à Laguna Ilón, com tempo nublado. Bom que já havia feito as fotos da Laguna Azul porque com a falta de sol ela não fica tão impressionante.

Quando estava novamente no mirante da Laguna Azul, encontrei o Federico e o Matías e caminhamos juntos até a Ilón, que não é tão bonita quanto a Azul, mas fica de frente para o Cerro Tronador e tem uma praia boa para nadar.

No fim do dia os argentinos me chamaram para ir até a Mirada del Doctor, que tem uma vista incrível para o Lago Frey e, quando voltamos, me convidaram para comer sopa creme com macarrão. Primeiro eu recusei, pois não teria nada gostoso para contribuir, mas como eles não tinham pão e isso sobrava na minha mochila, até que não foi uma troca muito injusta.

Laguna Ilón.

Vista da Mirada del Doctor.

Esperando o pôr do sol e as nuvens saírem da frente do Cerro Tronador.

A espera deu resultado, pois tive esse belo pôr do sol.

Dia 4 – Laguna Ilón a Refugio Otto Meiling (21,6 km – Elevação acumulada de 1.302 m)

Nessa noite tudo voltou ao normal e a temperatura esteve de novo abaixo de 0 grau. Acordei antes do nascer do sol, que fotografei com a laguna e o Tronador ao fundo, e saí logo em seguida em direção à Pampa Linda, o fim da travessia Colonia Suiza-Pampa Linda, também chamada de Travesía 5 Lagunas. Porém, como eu havia planejado aumentar esse trekking, emendei com a trilha para o Refugio Otto Meiling, uma subida bem longa até um refúgio e área de camping no Monte Tronador.

Após achar um bom lugar para a barraca, com vista para o cume, saí para fotografar e vi um esquiador subindo a geleira caminhando e descendo esquiando. Depois, vi essa pessoa na área de camping e fiquei impressionado ao perceber que era um senhor com mais ou menos 75 ou 80 anos, incrível!

Chegando no Refugio Otto Meiling, no Cerro Tronador.

Esquiador no Cerro Tronador.

Dia 5 – Refugio Otto Meiling a Pampa Linda (15,8 km – Elevação acumulada de 201 m)

Mais uma vez tive um lindo amanhecer e, depois de fotografar um pouco, fui para a base do Glaciar Castaño Overo clicar as cachoeiras formadas pelo degelo, com 120 metros de altura. Então voltei para Pampa Linda e peguei a van para Bariloche, onde havia apenas eu e mais um cliente, que me pergunta:
-Você viu o negócio lá na China?
-Não vi nada, estou há dias nas montanhas.
-Estão fechando cidades inteiras por causa de um vírus, maior loucura.
-Ah, ok.

Nem dei bola para esse assunto e pensei “A China está longe da Patagônia e deve ser sensacionalismo da mídia de novo”. Quem dera fosse verdade o que eu pensei e não tivéssemos que passar por uma maldita pandemia!

Na cidade, peguei um ônibus para o camping, mas a única forma de pagamento era com cartão municipal, que eu não tinha. Um argentino percebeu, pagou minha passagem e, muito gentilmente, não aceitou que eu lhe pagasse em dinheiro, em mais uma prova da ótima hospitalidade argentina.

Amanhecer no Cerro Tronador.

Glaciar Castaño Overo, no Cerro Tronador.

Cachoeiras de degelo no Glaciar Castaño Overo.

Trilha e fotos finalizadas, hora de comemorar.

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Torres del Paine, El Chaltén, Bariloche, Ushuaia, Villarrica, Cerro Castillo, Dientes de Navarino e Parque Patagonia