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Remando em volta da Ilhabela em três dias

Ter um caiaque oceânico para poder viajar era uma ideia que eu tinha há anos, e quando me mudei para São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, decidi que era hora de comprá-lo. Morando de frente para Ilhabela, nada mais natural que a primeira viagem fosse ao redor dela, o que planejei fazer em 4 dias, para remar em torno de 30 km por dia.

Aviso: se você espera ver belas fotos nesse artigo, esqueça, levei apenas uma GoPro e uma velha câmera compacta, decidi ter férias da fotografia por uns dias para me dedicar apenas à experiência da remada.

Primeiro dia em azul, segundo dia em vermelho e terceiro dia em laranja

 

Dia 1 – 30 km (11/01/2018)

Como o vento e a corrente dentro do Canal de São Sebastião podem ser bem fortes, decidi escolher se começaria a circunavegação indo para o norte ou sul durante a travessia do canal, assim eu poderia ver para onde seria mais fácil seguir.

Saí da Praia Preta do Centro, em São Sebastião, às 07:50 e fui até a Ilha das Cabras. Como o mar estava totalmente sem ondas e quase não havia vento, decidi ir para o sul, assim o local mais crítico da travessia eu atravessaria no segundo dia, com mais garantia de tempo bom, e não no terceiro dia como aconteceria se iniciasse a volta no sentido oposto.

Ilha das Cabras

A remada até a Praia do Bonete foi bem tranquila, apenas durante a última hora que as ondas começaram a aumentar, mas mesmo assim o mar ainda estava calmo. Cheguei no Bonete às 13:00, com um pouco de dor na lombar por ficar horas na mesma posição, mas sem cansaço muscular. Ao chegar, várias pessoas vieram olhar o caiaque e perguntar de onde vim, curiosas e espantadas ao ouvir a resposta, já que normalmente pensam que caiaques só servem para dar uma voltinha na frente da praia. Enfim, tarde toda livre para curtir a praia e a companhia de uma amiga e seu irmão, que por coincidência também estavam acampados lá.

Buraco do Cação, próximo à Praia do Bonete

Gruta do Oratório, próxima à praia do Bonete

 

Praia do Bonete no único dia de sol

 

Dia 2 – 50 km (12/01/2018)

O dia novamente amanheceu nublado e com mar liso, mas ao menos sem a forte chuva que caiu durante a noite. Saí do Bonete às 07:30, duas horas depois de ter acordado. Como as outras praias dessa enseada eu já conheço bem, resolvi atravessar logo o trecho mais desabrigado de toda a volta. Durante todo o trajeto entre o Bonete e o Saco do Sombrio só encontrei um barco, que estava ancorado entre a Ponta do Boi e a Ponta da Pirabura.

Depois desse trecho desabrigado cheguei no Saco do Sombrio, uma bela enseada que tem uma pequena comunidade caiçara e também uma base do Yacht Club Ilhabela. O funcionário do iate clube, ao ver um remador solitário, pegou o bote e gentilmente veio conferir se estava tudo certo, mas essa não foi a melhor visita, pois logo apareceu um grupo de golfinhos e aproveitei para remar um pouco com eles, sem dúvida o momento mais divertido de toda a viagem!

Prainha entre o Saco do Sombrio e a Figueira

Pausa para um banho de mar, o único local a salvo dos borrachudos

Quando estava chegando em Castelhanos, que seria o ponto de pernoite, resolvi seguir em frente. Ainda era cedo, em torno de 14:30, e garoava de vez em quando, então resolvi aumentar o desafio físico e fazer a circunavegação em três dias, em vez de quatro. Remei até a Praia da Serraria, passando pelo Saco do Eustáquio, Guanxuma e Caveira. Fui muito bem recebido pelos caiçaras da Serraria, mas em um daqueles momentos (bem frequentes) em que quero ficar sozinho na natureza, acabei optando por voltar para a Praia da Caveira e passar a noite lá.

Praia da Caveira

Praia da Caveira

 

Dia 3 – 38 km (13/01/2018)

Outro dia acordando às 05:30, mas dessa vez, já mais acostumado à rotina para arrumar os equipamentos no caiaque, saí mais cedo, às 07:00, mesmo parando um pouco para ver um lindo nascer do sol.

Nascer do sol na Praia da Caveira

A primeira parada foi na Praia do Poço, umas das minhas preferidas em toda Ilhabela. Bem pequena, tem um poço bom para nadar e uma corredeira bonita, mas também tem uma das maiores “comunidades” de borrachudos da ilha.

Praia do Poço

Depois passei pela Praia da Fome, Jabaquara e Pacuíba, mas só parei em uma mini praia um pouco antes de entrar no Canal de São Sebastião novamente. Mesmo tendo remado 50 km no dia anterior, felizmente os braços estavam sem dor alguma, já que os últimos 10 km foram os mais difíceis por conta do forte vento contra e, como a lombar estava me incomodando cada dia mais, remei forte para chegar em casa, me alongar e, claro, comer e deitar na rede.

Outra mini praia, essa entre a Praia do Jabaquara e a Ponta das Canas

Farol das Canas, ponto onde começa o Canal de São Sebastião

Cheguei na Praia Preta às 15:00 depois de remar um total de 118 km em 3 dias, ver inúmeras tartarugas, peixes voadores, golfinhos, praias desertas, remar sob sol e chuva, tomar banho de mar e de rio, doar sangue para muitos borrachudos e com a certeza que essa é apenas minha primeira de muitas viagens de caiaque oceânico, esse “brinquedo” é bom demais!

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