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O Deserto do Atacama além do óbvio
Introdução
O Deserto do Atacama é um destino muito famoso em todo o mundo e essa fama é merecida, já que é uma região de beleza excepcional, mas o Atacama não é apenas a região de San Pedro, o destino de quase todos os viajantes, ele tem mais de mil km de comprimento no sentido norte-sul e também se estende até o Oceano Pacífico, não se limitando ao altiplano andino.
Sendo tão conhecido, imagino que você já tenho visto várias fotos e textos sobre o Atacama, mas este artigo vai cobrir não só os atrativos mais famosos, como também pontos pouco conhecidos, desde o cume do vulcão mais alto do mundo até algumas das praias mais bonitas do Chile.
San Pedro de Atacama e região
Localizada na região central do deserto, a 2.400 metros de altitude, San Pedro de Atacama possui pouco mais de 11 mil habitantes (dados do Instituto Nacional de Estadísticas do Chile para 2025) e, por estar próxima de muitos atrativos turísticos, possui boa infraestrutura espalhada por suas ruas de terra e construções de adobe, sendo a base para os pontos que vou citar abaixo.

Anoitecer com vista para San Pedro e o vulcão Licancabur, na fronteira com a Bolívia.

As lhamas podem ser vistas por todo o altiplano do Atacama e são a maior espécie de camelídeos da América do Sul. Elas foram domesticadas há milhares de anos pelos povos andinos para consumo de sua lã, carne e leite.
Valle de la Luna (imperdível)
A apenas 5 km de San Pedro, o Valle de la Luna tem formações incríveis, uma grande duna que oferece vista panorâmica para o vale, cavernas de sal, etc. Separe ao menos três horas para visitá-lo, mas acredito que de quatro a cinco horas seja um tempo melhor para ver tudo com calma.

Vista desde o alto da duna do Valle de la Luna.

Uma das belas formações do Valle de la Luna.

Caverna de sal.
Geysers del Tatio, Laguna Flamencos, Río Putana e Machuca (imperdível)
Destino também muito famoso são os gêiseres de Tatio, onde a água subterrânea aquecida brota e cria fumarolas muito bonitas e fotogênicas, especialmente durante o amanhecer, quando a maior diferença de temperatura entre a água e o ar faz com que haja mais fumarolas. Localizado a mais de 4.300 metros de altitude, a temperatura no amanhecer pode chegar a 20 graus negativos, então vista-se de acordo.

Fumarolas no início do amanhecer.

Quanto mais cedo você chegar, mais fumarolas verá pelo maior o choque de temperatura.

Em alguns gêiseres a água borbulha devido à pressão com que chega na superfície.
Na volta, vale fazer uma parada no Río Putana para observar aves como o belo ganso-andino e, também, na Laguna Flamencos, onde poderá ver, adivinhe… Flamingos, claro!

Ganso-andino no Río Putana.

Guanacos na beira do Río Putana. Os guanacos são camelídeos selvagens menores que as lhamas e possuem pelagem curta, também sendo avistados facilmente no altiplano do Atacama.

Flamingo na Laguna Flamencos.
Você também passará pelo povoado de Machuca, que não me atraiu muito, de interessante vi apenas uma pequena igreja e, caso queira comer algo ou comprar artesanato, há algumas barraquinhas.

Pequena igreja no povoado de Machuca.
Monjes de la Pacana (imperdível)
Bem ao lado da estrada que liga San Pedro à Argentina ficam os Monjes de la Pacana, grandes colunas rochosas a 4.500 metros de altitude e que podem ser acessadas por carros de passeio. Seguindo mais 30 km em direção à Argentina fica o Salar de Quisquiro, que no verão é um bom lugar para avistamento de flamingos, mas eles não costumam estar próximos à estrada.

Visão geral dos Monjes de la Pacana.

Repare que há uma pessoa em frente ao Monje de la Pacana, para ter noção do tamanho dessa formação.

El Perro Sentado.

O Salar de Quisquiro fica com água no verão e os flamingos aproveitam para se alimentar.

Flamingos no Salar de Quisquiro.
Monjes Blancos e Catedral de Tara (imperdível para quem tem 4×4)
O caminho para os Monjes Blancos e a Catedral de Tara tem 55 km (ida e volta, contando a partir dos Monjes de la Pacana), mas é preciso um 4×4 e saber dirigir em trechos de areia fofa, então esse atrativo é pouco visitado pelas agências e, se você for sortudo como eu, terá o lugar todo para você.

Monjes Blancos.

Monjes Blancos.

Vista panorâmica da Catedral de Tara, também conhecida como Catedrales de Cenizas.

Repare no carro para perceber o tamanho das formações.
Clique aqui para abrir o Wikiloc e baixar o tracklog.
Laguna Cejar e Laguna de Piedra (imperdível)
Há diversas lagunas de grande salinidade no Atacama e, na região de San Pedro, eu acho a mais bonita a Laguna Cejar. Não é permitido entrar nela para não danificar a estrutura de sal em sua margem, mas ao lado há outra laguna, chamada Laguna de Piedra, onde é permitido se banhar e é bem interessante sentir a diferença de flutuabilidade em comparação ao mar.

Laguna Cejar.

Laguna de Piedra.
Lagunas de Baltinache (imperdível se não for para a Laguna Cejar)
Outra laguna de grande salinidade é a de Baltinache, que é quase tão bonita quanto a Cejar. Aqui também há apenas uma laguna onde é possível nadar, as outras são apenas para observar. A desvantagem é que fica mais longe de San Pedro que a Cejar, mas a vantagem é que menos gente a visita, justamente pela distância, então você não terá que dividir o lugar com tantas pessoas.

Uma das Lagunas de Baltinache.

Laguna onde é permitido nadar.
Laguna Miñiques, Laguna Miscanti, Socaire, Toconao e Valle de Jere (muito interessante)
Essas duas lagunas ficam no mesmo local e são lindas, então se você nunca foi a lagoas altiplânicas, aproveite a oportunidade, mas caso já tenha visitado outras, elas não apresentam algo diferente. No caminho você poderá conhecer o povoado de Socaire, a charmosa vila de Toconao e também o Valle de Jeré, um verdadeiro oásis em meio a tanta aridez.

Laguna Miñiques.

Socaire.

Valle de Jere.

As trojas de Jere eram usadas pelos antigos habitantes para o armazenamento dos alimentos obtidos no oásis.
Laguna Tebinquiche e Ojos del Salar (interessante)
A Laguna Tebinquiche é um bom lugar para avistamento de flamingos, mas caso você já tenha visto na Laguna Flamencos, Salar de Quisquiro ou qualquer outro ponto, acredito que pode deixar esse passeio de lado caso não tenha muito tempo disponível.

Flamingos na Laguna Tebinquiche.
No caminho para a lagoa ficam os Ojos del Salar, dois lagos de água doce ao lado da estrada, valendo uma parada para fotos, especialmente se você tiver um drone, o que eu não tinha quando os visitei.

Um dos Ojos del Salar.
Altiplano Sul
Distante mais de 900 km de San Pedro de Atacama, o aeroporto mais próximo dos atrativos que vou citar fica na cidade de Copiapó, mas se você estiver viajando de carro, há muitas outras que podem servir de base.

A raposa-andina é o segundo maior canídeo da América do Sul e pode ser encontrada por todo o Atacama.
Ojos del Salado (imperdível para montanhistas)
No extremo sul do Atacama fica seu ponto mais alto, que é também o local mais alto do Chile e o segundo mais alto das Américas, o vulcão Ojos del Salado, com 6.893 metros de altitude! Se você é um montanhista com experiência em alta montanha, clique aqui e veja o artigo de minha ascensão em solitário, mas mesmo que você não seja montanhista, pode ir de 4×4 até o Refugio Atacama, que fica a quase 5.300 metros de altitude, mas não faça isso sem antes se aclimatar porque pessoas já morreram dormindo nesse local sem terem feito a correta aclimatação e subindo direto do litoral.

Ojos del Salado visto desde o Refugio Tejos.

Cume do vulcão Ojos del Salado, a 6.893 m de altitude.
Laguna Verde (muito interessante)
Essa grande e bela lagoa fica ao lado da Ruta 39, que liga Copiapó (Chile) a Fiambalá (Argentina) e é usada na primeira etapa de aclimatação de quem vai subir os vulcões de mais de 6 mil metros que ficam a seu redor. Caso você não queira fazer montanhismo, mas queira ver belas lagoas, pode ir para a Laguna Verde, que tem pequenas piscinas naturais com águas termais, e no caminho pode conhecer o Parque Nacional Nevado Tres Cruces.

Laguna Verde e um dos acampamentos usados por montanhistas para a aclimatação à altitude.

Água termal na beira da Laguna Verde.
Lagunas de Pedernales (imperdível)
Ainda no sul do Atacama fica o Salar de Pedernales, que seria apenas mais um dos inúmeros salares andinos, não fosse por um conjunto de lagunas a 3.400 metros de altitude. Com cores variadas, no geral essas lagunas não são muito interessantes, exceto por uma chamada Laguna Turquesa, que tem água totalmente cristalina com uma cor turquesa hipnotizante e, para completar, é permitido nadar nela, o que rende excelentes fotos.

Foto aérea das Lagunas de Pedernales, no Salar de Pedernales.

Laguna Turquesa, a mais bela laguna de alta salinidade do Atacama.
Litoral
É claro que não vou recomendar que você viaje para o Chile para ver praias, afinal, há países melhores para isso, mas o encontro da aridez do deserto com o mar cria algumas paisagens muito bonitas, que merecem uma visita quando você visitar o altiplano do Atacama.
Eu rodei desde Caldera (sul do Atacama) até Iquique (norte), em um percurso de quase mil km, e abaixo descrevo os locais que mais gostei.

Chañaral é uma das cidades litorâneas do Atacama e serve de base para conhecer o Parque Nacional Pan de Azúcar.

Colônia de lobos marinhos em Chañaral.
Parque Nacional Pan de Azúcar (imperdível)
Localizado ao lado de Chañaral, que não é uma cidade bonita, fica esse parque que tem água cristalina (mas muito fria) e algumas praias lindas que, mesmo em janeiro, costumam ficar quase vazias. Também há algumas trilhas, sendo a mais bonita a que leva para o mirante da ilha Pan de Azúcar, merecendo uma visita de um ou dois dias se você gosta de locais vazios e com pouca estrutura turística.

A trilha para o mirante Pan de Azúcar tem 5 km (ida e volta) e 150 metros de elevação.

Mesmo sendo janeiro, a praia Pan de Azúcar estava vazia.
Bahía Inglesa (muito interessante)
Localizada no município de Caldera, a praia da Bahía Inglesa é bonita e ideal para quem quer boas opções de restaurantes e hospedagens, sendo um contraponto interessante para o Pan de Azúcar. Se quiser economizar na hospedagem, o centro de Caldera fica a apenas 10 minutos de carro e os preços são bem mais baixos.

Foto aérea da Bahía Inglesa.

Bahía Inglesa.
Playa La Virgen (interessante)
Também no município de Caldera, mas a quase 1 hora de carro desde o centro, fica essa praia que está em um terreno particular e é obrigatório pagar para entrar. A praia é bonita, mas em nada melhor do que as do Pan de Azúcar, então a coloquei nesse artigo apenas porque você provavelmente verá fotos dela quando planejar sua viagem e achei que deveria dar minha opinião.

Foto aérea da praia La Virgen.
Antofagasta (interessante)
Antofagasta é a maior cidade litorâneas do Atacama, com 479 mil habitantes em 2025, de acordo com o Instituo Nacional de Estadísticas. As praias da cidade não chamaram minha atenção, mas os prédios ao redor da Plaza Colón valem uma caminhada, assim como o Muelle Histórico.

Plaza Colón.

Vista desde o Muelle Histórico.
O atrativo mais interessante fica um pouco ao norte da cidade, onde há um lindo arco de pedra no mar, chamado Monumento Natural La Portada. Infelizmente eu perdi as fotos que fiz com a câmera e o drone, então abaixo está apenas uma foto feita com o celular de minha amiga, mas dá para ter uma ideia de como é o local, que certamente merece uma visita.

Monumento Natural La Portada e, ao fundo, a cidade de Antofagasta.
Iquique (interessante)
Iquique tem 233 mil habitantes (Instituo Nacional de Estadísticas, 2025) e me pareceu mais interessante que Antofagasta por ter uma área turística maior e também pelas praias, que mesmo não sendo bonitas como as da Bahía Inglesa ou Pan de Azúcar, servem para passar algumas horas. A mais famosa se chama Cavancha, mas no verão é impossível ter sossego pela quantidade de vendedores gritando em volta dos banhistas, eu gostei mais da Playa Brava porque as ondas espantam as pessoas e é possível pegar sol em paz.

Paseo Baquedano, uma rua só para pedestres com restaurantes, bares, agências de viagem, etc.

Torre del Reloj

Playa Brava, bem mais tranquila que Cavancha.
Entre as duas praias fica o restaurante El Rincón de Cachuperto, famoso por suas empanadas, que são realmente deliciosas, não perca. Em relação ao Zofri, que é um shopping supostamente com preços bons por estar em zona franca, não vi nada realmente interessante, só valeu a visita para tomar sorvete no Emporio La Rosa, a melhor sorveteria que conheço no Chile.
Gigante de Tarapacá (muito interessante)
Os geoglifos de Nazca, no Peru, são conhecidos internacionalmente, mas não é só lá que é possível ver esses desenhos feitos pelos povos pré-hispânicos. A 90 km de Iquique fica o Cerro Unita, um pequeno morro com aproximadamente 30 figuras feitas entre os anos 500 e 1.000, tendo o Gigante de Tarapacá, com 120 metros de comprimento, como geoglifo mais bonito.

Gigante de Tarapacá, geoglifo com 120 metros de comprimento.
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