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Circuito Alpamayo, Cordillera Blanca, Peru – Roteiro e dicas
Melhor época
De maio a setembro é a temporada seca, sendo julho e agosto os meses mais frios. Nesse período, são raros os dias de chuva, mas é preciso estar preparado para o pior clima possível, já que sempre pode ocorrer. Durante os cinquenta dias que passei nas montanhas peruanas no inverno de 2022, só choveu e nevou em um dia e, mesmo assim, apenas por algumas horas.
Descrição
O Circuito Alpamayo fica dentro do Parque Nacional Huascarán, na Cordillera Blanca, que faz parte da Cordilheira dos Andes. Ela é a junção de duas trilhas, a famosa Santa Cruz Trek e Valle Los Cedros. A trilha Santa Cruz é uma das mais famosas do Peru e você encontrará muitos grupos de trilheiros e escaladores, enquanto que a trilha que percorre o Valle Los Cedros é pouco usada e há grandes chances de ficar sozinho por dias.
As trilhas ficam quase sempre acima dos 4 mil metros de altitude, sendo o ponto mais alto o Paso Caracara, com 4.816 m, então é necessário fazer uma boa aclimatação antes de entrar no circuito.
De dia, quando não há vento e sob o sol, a temperatura fica bastante alta, permitindo andar de camiseta e bermuda, mas assim que o sol se põe, a temperatura cai rapidamente e, de noite, as mínimas ficam quase sempre abaixo de 0 grau. Quando eu fiz o circuito, as mínimas ficaram entre 0 e 6 graus negativos, mas esteja preparado para enfrentar temperaturas ainda mais baixas, em caso de uma frente fria.
Cidade base
Huaraz é a maior cidade da região e fica cheia de montanhistas no inverno, que é a alta temporada. Mesmo assim, os preços das hospedagens e restaurantes são bons, assim como há lojas que vendem equipamentos para trekking e escalada, caso você tenha algum problema com seu equipamento.
Onde dormir: Eu me hospedei no Lhotse Hostel e dormi tanto no quarto que tem uma cama de solteiro, como no que tem uma cama de casal. O quarto de solteiro é pequeno e não tem janela, o que me incomodou, mas o quarto de casal tem bastante espaço e janela que não oferece vista, mas ao menos serve para ventilar. O chuveiro funcionou bem e a cama era boa, assim como o wifi. No café da manhã são servidos dois pães, geleia, manteiga, chá, café, ovos e uma fruta, que varia a cada dia, e a vista a partir do terraço do café-da-manhã é linda, pois se pode ver as montanhas em 360 graus. O hostel está no sul de Huaraz, não fica longe da Plaza de Armas e dos restaurantes, mas os pontos de saída das vans e ônibus ficam, em geral, mais pro norte da cidade. Pra resumir, é uma hospedagem simples, mas com bom custo x benefício.
Onde comer: Conheci doze restaurantes e, dentre estes, os três que se destacaram estão abaixo. Vale dizer que não pedi e não tive nenhum tipo de desconto, tanto para a hospedagem como para os restaurantes, estou indicando por mérito deles.
- Jama Restaurante: fui duas vezes. Na primeira, pedi a truta com quinoa cremosa e estava sensacional! Tanto que, quando fui de novo, não consegui experimentar outro prato e comi, mais uma vez, a truta, que foi o melhor prato de toda a viagem, não apenas de Huaraz. Não abre na hora do almoço e convém fazer reserva para o jantar, pois há poucas mesas e costuma estar lotado. Clique para abrir o Facebook do Jama.
- Mamma Mia: até às 15:00 o restaurante tem pratos executivos com preços muito bons (12 a 15 soles). Os executivos não são tão bem servidos como os pratos do menu, mas o sabor é ótimo, não é mal feito por ser barato. Eles também vendem pães caseiros, salgados e doces, e ficam no Parque Ginebra, uma praça que tem diversos restaurantes, então não se acanhe de pedir o cardápio de todos para ver o que mais te agrada. Clique para abrir o Facebook do Mamma Mia.
- Chicharronería San Francisco: esse não é um restaurante turístico, tanto que nas duas vezes que fui, eu era o único estrangeiro. O ambiente é simples, fica um pouco afastado da Plaza de Armas, mas o chicharrón de chancho deles é delicioso, muito melhor que os outros que comi no Peru. Se você ainda não conhece chicharrón de chancho, é a carne do porco frita na própria gordura do porco, um prato nada leve mas excelente para quem quer recuperar o peso perdido nas montanhas. Clique para abrir o Facebook da Chicharronería San Francisco.
Aclimatação
Para me aclimatar à altitude, eu passei 3 dias em Huaraz (3 mil metros de altitude), fazendo trilhas leves nos dois primeiros dias e moderada no terceiro dia. Para mim, foi suficiente, mas cada corpo reage de uma forma e isso não depende do seu condicionamento físico. Caso você já saiba que tem aclimatação mais lenta, é recomendável passar o primeiro dia caminhando apenas pela cidade.
Dia 1: Laguna Wilcacocha, com altitude máxima de 3.800 metros. Não é um lago bonito, mas a vista para as montanhas do Parque Nacional Huscarán é bonita e, mais importante, é um local de fácil acesso para o primeiro ou segundo dia de aclimatação. A van sai da Av. Antonio Raymondi, quase na esquina com a Jr. Hualcan. No Google Maps, busque por Colectivo to Laguna Wilcacocha. Clique para baixar o tracklog no Wikiloc.
Dia 2: Ruínas de Willkawain e mirante da Laguna Radian, com altitude máxima de 3.900 metros. As ruínas são bem interessantes, mas o mirante para a laguna não é tão bonito, vale mesmo pela aclimatação. Caso queira chegar na Laguna Radian, é preciso pagar para os campesinos, mas vale dizer que o lago não é bonito como os lagos de altitude dos Andes. A van sai da esquina da 13 de Diciembre com Jr. Cajamarca. No Google Maps, busque por Paradero Wilcahuain. Clique para baixar o tracklog no Wikiloc.
Dia 3: Laguna Churup, com altitude máxima de 4.500 metros. A laguna é linda, com água cristalina e aos pés do Nevado Churup. A trilha até ela é razoavelmente íngreme e, se quiser aumentar um pouco o percurso, é possível subir até a Laguna Churupita. A van sai da Av. Agustín Gamarra, quase na esquina com a Antonio Raymondi. No Google Maps, busque por Paradero Pitek, Laguna Churup. Clique para baixar o tracklog no Wikiloc.
Outra opção é substituir duas caminhadas que citei acima pelas lagunas mais famosas e bonitas da região, mas para essas você vai precisar alugar um carro ou contratar um passeio com as agências, já que elas estão longe de Huaraz.
Laguna Parón: Dentre todos os locais citados nesse artigo, esse é o que tem acesso mais fácil, já que a van vai te deixar na beira do lago, a 4.206 metros de altitude. Mas se você vai madrugar e encarar as horas de estrada para chegar até a Parón, não deixe de subir até o mirante mais famoso, por uma trilha com 1,6 km (ida e volta) e elevação acumulada de 155 metros, chegando até 4.350 metros de altitude. Clique para baixar o tracklog no Wikiloc.
Laguna 69: A trilha desde o ponto de parada das vans até a beira do lago tem 14 km (ida e volta) e 860 metros de elevação acumulada, chegando a 4.627 metros de altitude. Se estiver se sentindo bem, recomendo que suba até o mirante, aumentando a trilha em 1 km (ida e volta) e subindo mais 96 metros, totalizando 15 km (ida e volta) com ascensão de 960 metros (ida e volta). Caso você vá com carro próprio, terá que deixá-lo no estacionamento da área de camping, então a caminhada terá 16,7 km (ida e volta) com elevação acumulada de 1.018 metros. Clique para baixar o tracklog no Wikiloc.
Ponto de início e como chegar
Esse circuito pode ser feito com início em Cashapampa ou Hualcayan. Se você começar em Cashapampa, terminará em Hualcayan, e vice-versa.
Vantagem de começar em Cashapampa: subida bem menos íngreme no primeiro dia. Para chegar em Cashapampa é preciso pegar uma van de Huaraz a Caraz e outra van de Caraz a Cashapampa. Você encontra a van que vai para Caraz na 13 de Diciembre, bem perto da Av. Agustín Gamarra. Coloque no Google Maps “Paradero Caraz” e aparecerá a localização. Recomendo que vá um dia antes para checar os horários. Chegando em Caraz, pergunte de onde sai o colectivo para Cashapampa, é uma curta caminhada e não é necessário pegar táxi.
Vantagem de começar em Hualcayan: quando terminar o circuito, pode pegar uma van de linha para voltar a Caraz e, de lá, outra van para Huaraz. Você encontra a van que vai para Caraz na 13 de Diciembre, bem perto da Av. Agustín Gamarra. Coloque no Google Maps “Paradero Caraz” e aparecerá a localização. Recomendo que vá um dia antes para checar os horários. Logo na frente da parada da van em Caraz você encontrará táxis, negocie com alguns para que eles façam uma disputa de preço, senão você vai pagar caro.
Eu optei por começar em Cashapampa, já que eu não estava muito bem treinado para pegar uma subida muito íngreme no primeiro dia, com a mochila cheia de comida para 10 dias. Quando terminei o circuito, achei um morador que me levou de volta a Caraz por 100 soles (R$ 140,00), o que foi um ótimo preço, já que um táxi cobra de 150 a 200 soles.
Taxas
Como esse trekking fica dentro do Parque Nacional Huascarán, é preciso pagar a taxa do parque. A tarifa é cobrada pelos dias de uso do parque:
1 dia = 30 soles (R$ 43,00 em julho de 2022);
2 ou 3 dias = 60 soles (86 reais em julho de 2022);
4 a 30 dias = 150 soles (215 reais em julho de 2022).
Se você fizer a trilha para a Laguna Churup como parte da sua aclimatação, terá que comprar o ingresso pois ela fica dentro do Parque Nacional, então aproveite e já compre para 30 dias, assim não terá que pagar a tarifa de 1 dia e, depois, a de 30 dias. O ingresso pode ser comprado em Huaraz ou na guarita de controle da Laguna Churup.
Guia
Não é obrigatória a contratação de guia para fazer as trilhas do Parque Nacional Huascarán, mas é recomendado caso não seja um montanhista experiente, principalmente para o Valle Los Cedros, quando é raro encontrar outros montanhistas. Eu fiz sozinho, mas se quiser contratar um, fale com Fredi Cruz Lumbe, telefone/WhatsApp +51 942 667 102, o Facebook é fredi.lumbe.31 e o Instagram é fredy_lumbe.
Tracklog para GPS
Roteiro
Abaixo está o roteiro que fiz, mas como há vários outros pontos de acampamento, não é necessário seguir o mesmo que eu, tudo depende de quanto você quer caminhar a cada dia.
Dia 1: Cashapampa – Campamento Llamacorral
Distância: 9,6 km
Elevação acumulada: 864 m
Descida acumulada: 135 m
Altitude mínima: 2.894 m
Altitude máxima: 3.761 m
Nos primeiros 5 km a trilha tem um pouco mais de inclinação, mas depois a trilha passa a ter apenas uma subida leve até o Campamento Llamacorral. Se estiver se sentindo bem, pode seguir em frente pois há mais pontos de camping antes da subida para o campo base do Alpamayo.
O acampamento tem banheiros estilo latrina.
Dia 2: Campamento Llamacorral – Campo Base Alpamayo Sur
Distância: 17,4 km (já incluindo a trilha bate-volta pra Laguna Arhuaycocha, que é imperdível)
Elevação acumulada: 829 m
Descida acumulada: 234 m
Altitude mínima: 3.685 m
Altitude máxima: 4.421 m
A trilha segue quase toda no plano até a subida pro campo base, que é razoavelmente íngreme, mas a altitude fará com que pareça pior. Quando terminar a subida íngreme, já pderá ver o Alpamayo de um lado e o Artesonraju de outro, é uma vista espetacular.
Monte sua barraca no campo base e vá para a Laguna Arhuaycocha, mas não vá para a margem dela. Pouco antes de chegar no lago, suba o morro que estará do seu lado esquerdo, de lá a vista é muito mais bonita, como pode ver nessas fotos.
No campo base há banheiros estilo latrina e é possível comprar cerveja e refrigerantes.
Dia 3: Campo Base Alpamayo Sur – Campamento Tuctupampa
Distância: 13,3 km
Elevação acumulada: 656 m
Descida acumulada: 758 m
Altitude mínima: 4.712 m
Altitude máxima: 4.095 m
A trilha começa no sentido contrário ao caminho do dia anterior, mas só parte da descida é feita, pois é possível pegar uma trilha para a esquerda (oeste) em vez de descer até o vale para seguir para oeste, cortando um pouco de caminho.
O guia Fredi Cruz Lumbe me recomendou dormir no Campamento Taullipampa, que fica em um lugar lindo, mas eu achei melhor seguir em frente pois cheguei muito cedo no acampamento e o dia de caminhada teria sido muito curto. Caso você esteja fazendo a Santa cruz Trek, que é mais curta que o Circuito Alpamayo completo, pode valer a pena passar a tarde à toa nesse acampamento.
Pouco depois começa a íngreme subida do Paso Punta Unión, sempre com vistas lindas para o Nevado Tauliraju. O outro lado do Paso não tem vistas tão impressionantes, a descida é íngreme e em certos pontos pode haver gelo na trilha, então é preciso cuidado para não escorregar.
O Campamento Tuctupampa já não faz parte da Santa Cruz Trek e não possui estrutura alguma, sendo que provavelmente você estará sozinho aqui.
Dia 4: Campamento Tuctupampa – Jancapampa
Distância: 20,6 km
Elevação acumulada: 1.002 m
Descida acumulada: 1.585 m
Altitude mínima: 3.549 m
Altitude máxima: 4.562 m
O quarto dia tem duas travessias de Pasos e a vista mais bonita do dia fica na descida do Alto de Pucaraju. Depois disso, o visual é menos interessante até chegar na vila de Jancapampa, que possui uma pequena mercearia que vende bolacha, macarrão e alguns itens básicos. O dono da mercearia também tem dois quartos bem simples para alugar, mas caso prefira acampar, é preciso seguir a trilha por alguns quilômetros para se afastar da cidade e encontrar um bom local. Para chegar na mercearia, é só perguntar onde fica a tienda, todo mundo sabe informar.
Dia 5: Jancapampa – Campamento Huillca
Distância: 15,1 km
Elevação acumulada: 1.144 m
Descida acumulada: 650 m
Altitude mínima: 3.527 m
Altitude máxima: 4.589 m
Logo ao sair de Jancapampa você encontrará a paisagem mais bonita do dia, pouco antes de uma longa subida.
O Campamento Huillca é uma área sem estrutura, próxima a uma casa e um riacho. Se quiser, é possível seguir em frente e acampar na beira da trilha, mas não estará tão perto de uma fonte de água.
Dia 6: Campamento Huillca – Campamento Jancarurish
Distância: 13,4 km
Elevação acumulada: 917 m
Descida acumulada: 729 m
Altitude mínima: 4.018 m
Altitude máxima: 4.816 m
Assim como no terceiro dia, hoje você estará todo o tempo acima dos 4 mil metros, mas agora sua aclimatação já estará bem melhor e, provavelmente, sentirá um pouco menos o efeito da altitude o que é bom pois nesse e no próximo dia, os Pasos estarão um pouco acima de 4.800 metros.
Na descida do Paso Caracara para o Campamento Jancarurish, você já terá vistas, mesmo que parciais, da Laguna Jancarurish e do Alpamayo. Ao chegar no ponto de camping, que não tem estrtutura, você pode fazer um bate-volta para a base da laguna ou subir o morro que fica à direita do acampamento. Se você for para a base da laguna, terá uma foto com mais destaque para ela e com o Alpamayo visto bem de baixo. Se subir o morro, a laguna não terá tanto destaque, mas o Alpamayo será visto de um ponto de vista mais alto, que foi o que escolhi. Vale dizer que não há trilha nesse morro, mas como a vegetação é baixa, basta escolher o melhor caminho.
Também é possível passar duas noites aqui e fazer um bate-volta no dia seguinte para o Campo Base Alpamayo Norte e subir um Paso para ficar ainda mais alto e perto do Alpamayo. Eu pretendia fazer isso, mas me sentia mal demais por causa da COVID-19 e tive que abandonar essa ideia, mas se você tem tempo, recomendo. Aliás, se quiser ler o relato dessa trilha e entender o que aconteceu, acesse https://ricardoferes.com/project/os-mais-belos-trekkings-do-peru/
Dia 7: Campamento Jancarurish – Campamento Cullicocha
Distância: 16,9 km
Elevação acumulada: 1.142 m
Descida acumulada: 746 m
Altitude mínima: 4.006 m
Altitude máxima: 4.812 m
Esse dia começa muito fácil, com 7 km em um leve declive pela Quebrada Alpamayo, até subir para atravessar os Pasos Los Cedros e Osoruri, descendo então para a Laguna Cullicocha, com uma vista incrível para o Santa Cruz.
Como em todos os acampamentos do Valles Los Cedros, esse também não tem estrutura alguma.
Dia 8: Campamento Cullicocha – Hualcayan
Distância: 12,4 km
Elevação acumulada: 106 m
Descida acumulada: 1.477 m
Altitude mínima: 3.208 m
Altitude máxima: 4.601 m
No último dia a trilha quase toda é de uma longa descida, até chegar na vila de Hualcayan, onde é necessário contratar um táxi para ir até Caraz, de onde saem as vans para Huaraz. Também é possível perguntar para os moradores se conhecem alguém que faça esse caminho, é bem possível que encontre um morador que tenha carro e queira ganhar um dinheiro extra, como aconteceu comigo. Enquanto os táxis costumam cobrar de 150 a 200 soles, eu paguei apenas 100 soles, que equivalia a 140 reais na época da minha viagem.
Uma terceira opção, se for necessário economizar, é de caminhar até Cashapampa para voltar de van, mas é uma caminhada de aproximadamente 2,5 horas, com várias subidas e descidas.
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