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Cânion de Cotahuasi, Peru – Roteiro e dicas
Visão geral
Apesar de ser um dos cânions mais profundos do mundo, o Cânion de Cotahuasi é pouco conhecido até mesmo pelos peruanos. Isso acontece pela proximidade com o Cânion de Colca, que tem acesso mais fácil e infraestrutura turística muito mais desenvolvida. Eu mesmo, quando passei dois meses no Peru, estava planejando conhecer o Cânion de Colca, até que um amigo peruano me disse “vá para Cotahuasi, é mais profundo e tem pouquíssimos turistas, você vai gostar”. Ele tinha razão, passei 8 dias por lá e poderia ter ficado mais, porque não consegui conhecer e fotografar tudo que queria.
No parágrafo acima eu citei que Cotahuasi é mais profundo que Colca e um dos mais profundos do mundo, mas isso é polêmico, já que há medições diferentes, cada uma baseada em um critério e, aparentemente, não há um modo oficial, aceito por todos os países, de se medir a profundidade de um cânion. Isso faz com que, na lista da NASA Earth Observatory, Cotahuasi seja o mais profundo do planeta; na lista da National Geographic Espanha, é o terceiro, perdendo para dois cânions na Ásia; os órgãos peruanos algumas vezes citam Cotahuasi e, em outras, Colca como o mais profundo. A maior parte das publicações diz que sua profundidade é de 3.535 metros, e sua extensão é de 100 km, então vou assumir como sendo essa a medição real e que, na verdade, o mais importante é sua beleza.
Dentro do cânion há muitas vilas e pequenos povoados, que se dedicam à agricultura e pecuária, exceto os que ficam no topo do cânion, onde a temperatura impede a agricultura e ocorre apenas a criação de gado, ovelha, alpaca e lhama. Dentro do cânion, as plantações são de milho, batata, quinoa e diversos outros cereais e tubérculos, pois com tanta amplitude térmica entre o fundo do vale e seu topo, há altitudes/temperaturas próprias para diferentes plantas.
Em 2005 o governo peruano criou a Reserva Paisajísica Subcuena del Cotahuasi, que tem 490.550 hectares (quase 5 mil km quadrados), com a difícil missão de conciliar a preservação da fauna e flora com o estilo de vida tradicional dos moradores e, ainda, o desenvolvimento do turismo. Falando nisso, a grande maioria dos turistas vai ao cânion apenas para conhecer as Termas de Luicho e a Cascada de Sipia, mas a região é ótima para quem quer fazer caminhadas de um dia ou mais e, melhor ainda, para quem gosta de fazer mountain-bike, evitando assim o péssimo transporte público e podendo parar em todos os mirantes que quiser, já que as estradas de terra oferecem paisagens lindíssimas. Outro esporte subdesenvolvido é o rafting e caiaque de águas brancas, já que o Río Cotahuasi, entre Velinga e Iquipi, tem uma seção de 90 km com corredeiras classe IV e algumas classe V, mas que podem ser porteadas.
Melhor época
- De maio a agosto é a época seca, com muito sol e poucos dias nublados, então se não quer se preocupar com o clima, é a época certa. A falta de chuvas deixa a paisagem árida, exceto pelos sítios que possuem irrigação, você verá pouco verde.
- De setembro a novembro é uma época de transição, aumentando as chuvas e dias nublados.
- De dezembro a março é a temporada de chuvas, quando algumas estradas ficam enlameadas e pode ser difícil rodar com carros de passeio, mas o cânion fica muito mais verde.
- Abril é um mês de transição, podendo ser uma boa escolha para encontrar paisagens com mais plantas sem precisar enfrentar a época de chuvas.
Como chegar
A cidade de Cotahuasi é a porta de entrada para o cânion e fica distante 371 km de Arequipa, a segunda maior cidade peruana. Só há ônibus no período noturno e a viagem leva em torno de 8 horas, chegando de madrugada em Cotahuasi. Se você não tem uma hospedagem já reservada, terá que esperar por várias horas no ônibus até o dia nascer e poder buscar um lugar, sendo esse um dos motivos pelo qual recomendo muito que vá de carro, seja com o seu, seja com um alugado. Outro motivo é que o transporte público entre uma vila e outra é péssimo, mas isso explicarei melhor no próximo tópico.
O que fazer
Abaixo estão os locais que visitei, com os atrativos agrupados de acordo com suas localizações. Não colocarei os horários de transporte porque não são confiáveis, é preciso ir até Cotahuasi e perguntar para diversas pessoas, pois mesmo os moradores não conhecem bem. Aliás, nem mesmo o responsável pela organização do transporte soube me informar e precisou fazer um telefonema para ter a resposta, que estava errada, então não serviu para nada. Justamente pelas mudanças de dias e horários, não confie nas informações que encontrar na internet, pois algumas estão certas e outras, não.
Cotahuasi
A cidade de Cotahuasi é a maior do cânion e é o ponto final do ônibus que sai de Arequipa. Para os padrões brasileiros, é uma pequena vila, mas conta com algumas pousadas e poucos restaurantes, assim como alguns pequenos mercados.
Eu me hospedei no Hotel Los Andenes, que está bem localizado, tem quartos confortáveis e bom wifi. Ele está cadastrado no Booking, mas se você for direto no balcão, o preço é bem mais baixo.
Conheci dois restaurantes, mas só posso indicar um, já que não gostei do outro. O que eu gostei e fui quatro vezes é o Sumac Micuy, que fica bem perto do Hotel Los Andenes, a comida é boa e o preço, também.
Na pequena praça central fica a lanchonete La Placita, uma boa opção para comer um sanduíche (comi um choripán) ou até alguns pratos, mas esses eu não experimentei.
Bosque de Piedras Huito e Catarata de Uskune, em Pampamarca
- A trilha para o Bosque de Piedras tem 7 km (ida e volta) e elevação de 600 metros, então é uma trilha curta e íngreme, sendo que a altitude de 3.600 metros cobra seu preço, especialmente para quem não estiver aclimatado. A erosão causada pela ação do vento e da chuva resultou em formações belíssima e a vista para o cânion também impressiona. Para completar, é um ótimo ponto para avistagem de condores, especialmente pela manhã.
- A trilha para o mirante da Catarata de Uskune tem 2,5 km (ida e volta) e pouca diferença de elevação, sendo fácil até mesmo para pessoas que não estão acostumadas a fazer trilhas. A vista do mirante é bonita, mas a cachoeira fica a 700 metros de distância, então você não vai vê-la em detalhes se não tiver um binóculos ou uma boa lente zoom na câmera.
Cascada de Sipia, Mirador Chaupo e Bosque de Cactus de Judiopampa
Esses três pontos ficam entre Cotahuasi e Velinga, podendo ser visitados em uma manhã, caso esteja de carro. De bicicleta, é passeio para um dia inteiro, mas se for de ônibus, terá que descer no Bosque de Cactus e voltar a pé, pois só há um ônibus por dia e ele passará para Cotahuasi antes de você ver tudo. Caso não queira caminhar mais de 22 km por estrada de terra e asfalto, pode dormir em Velinga, onde há uma hospedagem bem simples na casa da Sra. Angélica, e pegar o ônibus do dia seguinte.
Ruínas de Maukallacta
As ruínas de Maukallacta são acessadas por uma trilha de apenas 2 km (ida e volta) e 170 metros de ascensão. Esse foi o maior povoado da região, construído pelos Huaris antes mesmo do domínio inca, e várias construções se encontram em bom estado de conservação. As ruínas já valem, por si só, o deslocamento de Cotahuasi até Puyca, o vilarejo de onde começa a trilha, mas vale dizer que a vista de Maukallacta para o cânion é incrível e a estrada que sobe até Puyca também oferece paisagens impressionantes.
Trilha de Charcana a Quechualla
Charcana é uma vila que fica no alto de um platô, a 3.417 metros de altitude, enquanto Quechualla é a vila mais baixa do cânion, a 1.804 metros. As duas podem ser acessadas de ônibus ou carro, mas entre elas, só caminhando por uma trilha lindíssima, que no começo tem uma vista impressionante para o fundo do cânion e, à medida que se desce, dá vista para montanhas com cores lindas e para o Río Cotahuasi.
Considerando que há algumas subidas pelo caminho, no total, o descendo acumulado é de quase 2 mil metros, então é recomendável usar bastões de caminhada para proteger os joelhos.
Ao chegar no fundo do vale, você pode ir direto pra Quechualla ou andar mais 4 km (ida e volta), quase totalmente no plano, para tomar um banho geladíssimo na Cascada Ushua.
Em Quechualla, na frente da praça, há uma hospedagem bem simples, de uma família bastante simpática, e a varanda deles é o único lugar em que há sinal de celular da Claro. Se quiser uma refeição, eles mesmo podem preparar.
Clique aqui para entrar no Wikiloc e baixar essa trilha para o seu GPS.
Mirante de Locrahuanca
Locrahuanca é um pequeno povoado que fica em cima de um morro e tem vista para Taurisma e Tomepampa, de onde se inicia a trilha. Também é possível chegar em Locrahuanca de carro ou ônibus, pelo outro lado do morro, mas vale dizer que a vista de lá é bonita, porém não tão bonita como de outros mirantes que já descrevi. Vá apenas se estiver com tempo sobrando, senão é melhor conhecer os atrativos que citei acima.
A trilha tem 7 km (ida e volta) e elevação de 650 metros, não é uma caminhada tão rápida quanto li em alguns sites, em que eu acredito que escreveram sem nem ao menos terem feito a trilha, já que não havia nenhuma foto.
Outros atrativos
Acima eu descrevi os pontos que visitei, mas no Cânion de Cotahuasi há muito mais coisas para conhecer, que eu não fui por falta de tempo, transporte ou interesse. Citarei algumas dela para que, se você se interessar, possa buscar mais informações na internet ou nos próprios povoados.
- Baños Termales: há vários locais com águas termais, sendo o mais famoso o de Luicho, mas também há o de Lucha, Josla e, segundo dizem, outros que não são explorados turisticamente. Eu não conheci nenhum deles pois no fundo do vale faz bastante calor durante o dia, então não tinha a menor vontade de entrar em águas quentes se já estava com calor.
- Bosque de Piedras Santo Santo e Huarmunta: além do Bosque de Piedras que visitei, há mais dois que não tive tempo de conhecer, então não posso dizer qual é o mais bonito. Se você for nos 3 e puder comparar, agradeço se me escrever no email cadastro@ricardoferes.com para contar qual gostou mais.
- Mirador Allhuay: esse mirante fica na estrada que dá acesso à Cotahuasi, mas como eu estava de ônibus, não pude parar. Tampouco consegui um transporte em Cotahuasi para me levar, mas se você está de carro, acredito que terá uma vista bonita.
- Mirador Bañadero del Cóndor: perto do Mirador Allhuay mas com acesso por estrada de terra, no verão há uma cachoeira com pouca água mas bem alta e, em sua base, um pequeno lago em que se pode ver os condores. Como eu fui no inverno, não havia água e nem tentei visitá-lo.
- Catarata de Fuysiri: vi poucas fotos na internet dessa cachoeira, assim como poucas informações confiáveis, mas fiquei curioso de conhecer porque parece ser bonita. O acesso se dá por uma trilha com 3 km e se inicia em Tecca, mas para chegar em Tecca, pelo que pesquisei, só caminhando, então agradeço se você conseguir informações mais precisas e me enviar no email cadastro@ricardoferes.com
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